ANDRÓGINOS
No início, a raça dos homens não era como hoje, era
diferente, não haviam apenas dois sexos. Segundo o livro "O Banquete",
de Platão, existiam três criaturas míticas proto-humanas.
No livro, o comediógrafo Aristófanes descreve como haveriam surgido os diferentes sexos.
Havia antes três seres: Andros, Gynos e Androgynos, sendo Andros uma
entidade masculina composta de oito membros e duas cabeças, ambas
masculinas, Gynos entidade feminina mas com características semelhantes,
e Androgynos composto por metade masculina, metade feminina.
A
Mitologia Grega conta que Zeus declarou guerra ao seu pai Cronos e aos
demais Titãs com a ajuda de Gaia. E durante cem anos nenhum dos dois
lados chegava ao triunfo. Gaia foi até Zeus e prometeu que ele venceria e
se tornaria rei do universo se descesse ao Tártaro e libertasse os
Ciclopes e os Hecatônquiros filhos de Gaia.
Ouvindo os conselhos de
Gaia, Zeus venceu Cronos, com a ajuda dos filhos libertos da Terra e se
tornou o novo soberano do Universo. Todavia, Zeus realizou um acordo com
os Hecatônquiros para que estes vigiassem os Titãs, que Zeus voltou a
aprisionar no fundo do Tártaro. Gaia então se revoltou com a traição de
Zeus e lançou mão de todas as suas armas para destrona-lo.
Como
vingança ela pariu incontáveis Andróginos, seres com quatro pernas e
quatro braços que se ligavam por meio da coluna vertebral terminado em
duas cabeças, além de possuir os órgãos genitais femininos e masculinos.
Essa criatura primordial era redonda: suas costas e seus lados formavam
um círculo e ela possuía quatro mãos, quatro pés e duas cabeças com
duas faces exatamente iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num
pescoço redondo. A criatura podia andar ereta, como os seres humanos
fazem, para frente e para trás.
Mas podia também rolar sobre seus
quatro braços e quatro pernas, cobrindo grandes distâncias, velozes como
um raio de luz. Eram redondos porque redondos eram seus pais: o homem
era filho do Sol. A mulher, da Terra. E o par, um filhote da Lua.
Os
Andróginos surgiam do chão em todos os quadrantes da Terra, sua força
era extraordinária e seu poder imenso. E isso tornou-os ambiciosos,
levando-os a desafiar os Deuses e a escalar o Monte Olimpo com a
intenção de destronar Zeus e destruir os Deuses.
Reunidos no
conselho celeste, Zeus aconselhado por Têmis, decidiu que ele e os
demais Deuses deveriam acertar os Andróginos na coluna, de modo a
dividi-los exatamente ao meio, para que se tornassem menos poderosos,
sem precisar aniquila-los.
Pois aniquilar as criaturas significaria
ficar sem os sacrifícios, as homenagens e a adoração. Mas insolência das
criaturas era totalmente inadmissível, e por isso deveriam ser
castigadas.
Portanto o Grande Zeus decidiu deixa-los viver, mas
divididos para torna-los mais humildes e fracos e assim diminuir seu
orgulho fazendo-os andar sobre duas pernas, diminuindo sua força e
poder, com a vantagem de aumentar seu número. A medida que as criaturas
eram cortadas em dois.
Apolo ia virando suas cabeças, para que
pudessem contemplar eternamente sua parte amputada, como uma lição de
humildade. Apolo também curou suas feridas, deu forma ao seu tronco e
moldou sua barriga, juntando a pele que sobrava no centro formando o
umbigo, para que eles lembrassem do que haviam sido um dia.
Seccionado Andros, originaram-se dois homens, que apesar de terem seus
corpos agora separados, tinham suas almas ligadas, por isso ainda eram
atraídos um pelo o outro. O mesmo ocorrendo com os outros dois seres
Gynos e Androgynos. Andros deu origem aos homens homossexuais, Gynos às
lésbicas e Androgynos aos heterossexuais.
Segundo Aristófanes, seriam então dividos aos terços os heterossexuais e homossexuais, homem, mulher e a união dos dois.
E foi aí que as criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de
desespero. Abraçavam-se e deixavam-se ficar assim até a morte. E quando
uma das partes morria, a outra ficava à deriva, procurando,
procurando...até morrer também.
Zeus ficou preocupado com o destino
das criaturas, pois se isso continuasse elas acabariam por se extinguir,
então aconselhado por Têmis, ele ordenou a Apolo que virasse as partes
reprodutoras dos seres para a sua nova frente, para que através do ato
sexual pudessem estar novamente unidos ainda que por alguns momentos. Se
antes, eles copulavam com a terra de agora em diante, se reproduziriam
entre eles, um homem numa mulher. Num abraço, assim a raça não morreria e
os Deuses continuariam a ser adorados e reverenciados.
As criaturas
poderiam continuar vivendo e com o tempo eles esqueceriam o ocorrido e
apenas perceberiam seu desejo por sua outra parte. Um desejo jamais
inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro
pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse
explicar, que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a
saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor
se extinguissem.